Esta edição é composta por cinco artigos oriundos de pesquisa empírica, sustentados em diversos referenciais teóricos e metodológicos, na tradição interdisciplinar da revista Humanae. São questões controversas da atualidade que, em sua multiplicidade, contribuem para o desenvolvimento regional, em aspectos como o planejamento urbano, a utilização dos meios de comunicação alternativos e mesmo a compreensão da natureza humana, a partir da ética. Sintetizando, nossa proposta editorial é discutir urbanidades e conflitos.

Na contribuição de João Gabriel Brito, Irenilda de Souza Lima e Betania Maciel encontramos um simpático personagem, o Bode Gaiato. Entre os costumes populares nordestinos mais arraigados e o meio de comunicação característico da pós-modernidade, a Internet e suas redes sociais, é através do referencial teórico da Folkcomunicação que os autores identificam o autor da tira de humor online como um ativista midiático, capaz de estabelecer diálogos com seu público alvo.

Já o artigo "Recife e sua região metropolitana: heranças e incompletudes que desafiam o futuro da cidade", de autoria de Fernando Pontual de Souza Júnior e Cristóvão de Souza Brito encontra na herança da colonização europeia os atuais entraves de desenvolvimento da cidade do Recife, com a identificação de um desafio ainda maior: a adoção de estratégias compensatórias no contexto da reestruturação das relações econômicas promovida pela globalização.

Especificamente, a professora Maria do Carmo de Albuquerque Braga discute o dilema entre a gestão e a conservação do patrimônio imobiliário público, avaliando com base na teoria acadêmica atual, o conflito entre o potencial comercial de bens públicos desonerados e sua necessidade de conservação. Como exemplo, utiliza a controvérsia ao redor do Cais do Estelita, que tanto debate gerou e continua gerando na sociedade recifense e pernambucana.

Continuando a temática do urbanismo, Vinicius Albuquerque Fulgêncio aborda "A dinâmica da rede urbana nordestina: uma análise a partir da hierarquia urbana", na ótica do planejamento e das novas configurações oriundas do processo globalizante e "desterritorializante", como forma de integrar o metropolitano e o regional.

O último artigo nos traz um conflito ainda mais dramático, na autoria de Márcio Bruno Barra Valente. "Reflexões sobre o Holocausto e a condição humana à luz da filosofia de Martin Bueber" utiliza o referencial da história da bondade do filósofo austríaco vienense para buscar compreender como as relações humanas e o diálogo podem perseverar mesmo em condições tão adversas como o Holocausto. Mais que isso, o autor defende que tal filosofia constitui um guia ético para o tempo de crise que vivemos atualmente.

E logo, um paradoxo, na medida que nossa conclusão é também um início. Inauguramos a partir deste número uma nova seção da revista Humanae, dedicada à cultura e à arte. Entendendo que a ciência não se dissocia desta forma de conhecimento, muito pelo contrário, buscaremos através da poesia, da pintura, do audiovisual e da fotografia apresentar compreensões que de uma forma ou outra dialogam com os temas apresentados.

Como primeira contribuição, o professor Marcelo Sabbatini nos apresenta a visão de um "Montevidéu saudoso", recuperando o charme e a beleza arquitetônica de uma cidade que foi uma próspera metrópole até a metade do século XX. Para tal, este pesquisador e fotógrafo amador se utiliza da adaptação de uma técnica chamada lomografia, para se afastar da representação pura da realidade e se aproximar de imagens que evocam um passado "vintage".

Desejamos a todos(as) uma boa leitura.

Grande abraço,

Profa. Dra. Betania Maciel

Editora executiva