Programa Minha Casa, Minha Vida e a segregação socioespacial: algumas reflexões
Resumo
A pesquisa se propõe a analisar de que modo a mercantilização da terra e o uso crescente da habitação como ativo financeiro globalizado afetam o exercício do direito à moradia adequada. A partir de um tipo bibliográfico com viés descritivo, destaca-se o abandono de políticas públicas em que a habitação é considerada um bem social ou meio de distribuição de riqueza. A disciplina de mercado assume o protagonismo nas cidades. Nesta perspectiva, toma-se como base o Programa Minha Casa, Minha Vida e suas articulações entre agentes públicos e privados para contextualizar o processo de financeirização da moradia e sua relação com a crescente segregação socioespacial no Brasil. Contesta-se, desta forma, o modelo de gestão do referido programa que, ao ser desenhado para servir aos ditames do complexo imobiliário, não resolve o déficit habitacional brasileiro, pelo contrário, dá origem a um novo tipo de favelização urbana, perpetuando o estigma territorial e o “lugar dos pobres” nas cidades. Utiliza-se Rolnik (2015) e Santos (1993) como aportes teóricos.
Referências
ARAGÃO, Thêmis Amorim. A financeirização da moradia no Brasil: a cidade como direito ou mercadoria? Le Monde Diplomatique. Brasil, web, 26 ago. 2016.
BRAND, Ulrich. Estado e polÃticas públicas: sobre os processos de transformação. In: LANG, Miriam et al (Orgs.). Descolonizar o imaginário. Debates sobre pós-extrativismo e alternativas ao desenvolvimento. São Paulo: Elefante, 2016. p. 123-137.
CARDOSO, Adauto Lúcio; JAENISCH, Samuel Thomas. Nova polÃtica, velhos desafios: problematizações sobre a implementação do programa Minha Casa Minha Vida na região metropolitana do Rio de Janeiro. E-metropolis: Revista Eletrônica de Estudos Urbanos e Regionais, Rio de Janeiro, v. 5, p. 6-19, 2014.
CHOMSKY, Noam. O lucro ou as pessoas: neoliberalismo e ordem global. Trad. Pedro Jorgensen Jr. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
CORRÊA, Geovana de Medeiros. A habitação social em foco: uma abordagem sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida. 2012. 190 f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Programa de Pós-Graduação em Economia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.
ENGELS, Friedrich. Sobre a questão da moradia. Trad. Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2015.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Déficit Habitacional Municipal no Brasil 2010. 2014. DisponÃvel em: <http://www.fjp.mg.gov.br/index.php/noticias-em-destaque/2680-fundacaojoao-pinheiro-e-ministerio-das-cidades-divulgam-os-resultados-do-deficit-habitacionalmunicipal-no-brasil>. Acesso em: 07 jun. 2020.
HARVEY, David. O direito à cidade. Lutas Sociais, São Paulo, n. 29, p. 73-89, jul./dez. 2012.
HARVEY, David. Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
IBÃÑEZ, Mario Rodriguez. Ressignificando a cidade colonial e extrativista: Bem Viver a partir de contextos urbanos. In: LANG, Miriam et al (Orgs.). Descolonizar o imaginário. Debates sobre pós-extrativismo e alternativas ao desenvolvimento. São Paulo: Elefante, 2016. p. 297-333.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÃSTICA. Aglomerados subnormais: desafios da urbanização contemporânea. Revista Retratos, Rio de Janeiro, n. 8, p. 16-21, fev. 2018.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÃSTICA. Censo demográfico 2010: resultados gerais da amostra. 2010. DisponÃvel em: <https://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html>. Acesso em: 07 jun. 2020.
LANDER, Edgardo. Com o tempo contado: crise civilizatória, limites do planeta, ataques à democracia e povos em resistência. In: LANG, Miriam et al (Orgs.). Descolonizar o imaginário. Debates sobre pós-extrativismo e alternativas ao desenvolvimento. São Paulo: Elefante, 2016. p. 215-253.
MASTRODI, Josué; ZACCARA, Suzana Maria Loureiro Silveira. O que é o objeto “moradia†do Programa Minha Casa, Minha Vida? Revista de Direito da Cidade, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 859-885, 2016.
MEIRELES, Eduardo; CASTRO, Carolina Maria Pozzi de. Provisão do Programa Minha Casa, Minha Vida em São José do Rio Preto, SP: inserção urbana e adequação socioeconômica e ambiental – um estudo de caso do conjunto habitacional Nova Esperança. Ambiente ConstruÃdo, Porto Alegre, v. 17, n. 3, jul./set. 2017.
MONTEIRO, Adriana Roseno; VERAS, Antonio Tolrino de Rezende. O Programa Minha Casa, Minha Vida e a produção do espaço urbano na cidade de Boa Vista – RR. Revista de Direito da Cidade, Rio de Janeiro, v. 7, n. 3, p. 1180-1199, 2015.
ROLNIK, Raquel et al. O Programa Minha Casa Minha Vida nas regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas: aspectos socioespaciais e segregação. Cadernos Metrópole, São Paulo, v. 17, n. 33, p. 127-154, mai. 2015.
ROLNIK, Raquel. O que é cidade? São Paulo: Brasiliense, 1995.
ROLNIK, Raquel. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças. São Paulo: Boitempo, 2015.
ROSA, Marta Ferreira. Segregação Socioespacial na PolÃtica Urbana: Contradições histórico-estruturais no Programa Minha Casa, Minha Vida. 2015. 142 f. Dissertação (Mestrado em PolÃtica Social) – Programa de Pós-Graduação em PolÃtica Social, Universidade de BrasÃlia, BrasÃlia, 2015.
ROYER, Luciana de O. Financeirização da polÃtica habitacional: limites e perspectivas. 2009. 193 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.
SANTOS, Milton. A urbanização desigual: a especificidade do fenômeno urbano em paÃses subdesenvolvidos. 3. ed. 1. reimp. São Paulo: EdUSP, 2012.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. 5. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
SHIMBO, Lúcia Zanin. Habitação social, habitação de mercado: a confluência entre estado, empresas construtoras e capital financeiro. 2010. 361 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
-
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista Hum@nae o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License, permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
-
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
-
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.